82º ANIVERSÁRIO DO RANCHO DA PRAÇA DISCURSO DE ENCERRAMENTO


No encerramento das Comemorações do 82º Aniversário do Rancho da Praça, saudamos e agradecemos as presenças de: sua Exa. o Eng. Mário Almeida - Digmo Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, dos elementos da Mesa da Assembleia Geral do Rancho da Praça - presidida pelo Eng. António Santos Ferreira, dos elementos do Conselho Fiscal do Rancho da Praça - presidido por Júlio Félix, de D. Ricardo Nores - embaixador do Rancho da Praça, de D. Pedro Sanz - Presidente do Real Coro Toxos e Froles e demais elementos directivos do nosso rancho irmão, dos elementos do Coro Cantores de Ferrol e de muitos dos nossos componentes do Rancho Actual, Rancho composto por componentes dos anos 80 e 90, Rancho das Velhas Guardas e de muitos colaboradores que incorporaram a Marcha Luminosa e trabalharam na confecção dos arcos e dos carros alegóricos.

Comemorar 82 anos na vida das pessoas é sempre um facto a assinalar, porque são poucos os que conseguem atingir essa idade com clarividência, lucidez e força para ultrapassar as adversidades da vida.

Mas, tratando-se de uma Associação tão emblemática e popular como é o Rancho da Praça, perfeitamente inserida na comunidade e com tantas tradições, comemorar essa efeméride torna-se naturalmente num momento de alegria e de júbilo, particularmente, quando essa Associação consegue atingir esta bonita idade sem mentiras nem falsas datas e cada vez mais rejuvenescida como é o caso do Nosso Glorioso.

Chegar aqui foi importante. A alegria deste convívio e o orgulho sentido pelos êxitos alcançados é algo que não devemos esquecer. O facto de estarmos nesta reunião de família a confraternizar como pessoas educadas e amigas que somos, é salutar e faz parte da vida, pois não sabemos se para o ano estaremos em condições físicas de poder cá estar.

Importa no entanto reflectir sobre a vida da nossa Associação, parar um pouco para pensar, fazer uma análise retrospectiva e perguntar a nós próprios como é que foi possível chegar a esta altura com a força sempre rejuvenescida que o Rancho da Praça tem.

Será que tudo isto aconteceu por acaso? Não meus amigos. Ao longo destes 82 anos, foram muitas as gerações que passaram por este Glorioso como directores, músicos, ensaiadores e componentes, quase todos gente anónima mas que tinham como denominador comum o ideal que a todos faz estar aqui hoje - o nosso Rancho da Praça e a nossa bandeira.

Todo este movimento se traduz em milhares de pessoas, muitas horas, dias e anos de trabalho, muitas dificuldades, muitos sacrifícios, muitas alegrias e também algumas tristezas.

De uma coisa temos a certeza e julgo que estamos todos de acordo. Sem o Rancho da Praça e a alegria da sua gente, Vila do Conde não tinha o encanto e o interesse que hoje tem.

Em festa de aniversário, não podíamos pois esquecer essa gente. Enquanto que aqui, neste convívio, está apenas uma pequena parte dos Pracistas vivos, não estão mais porque não temos casa para isso, na parte da manhã, com o sentimento que caracteriza o Povo da Praça, homenageamos todos os que já partiram. É desta comunhão de ideias e no cumprimento de um ideal, que o Rancho da Praça há-de continuar a ser grande e a trilhar caminhos de sucesso.

Mas para que isso aconteça, é preciso trabalhar em comunidade. Lembrem-se que nada se faz sem trabalho e entrega, nem as coisas aparecem feitas. Só conseguimos atingir a plenitude de realização quando nos entregamos a um ideal. É preciso por isso aderir às iniciativas da Associação e colaborar, sem rodeios e sem dividir. É preciso por isso comparecer quando a isso somos chamados, sem apresentar qualquer tipo de pretextos para nada fazer. O Rancho da Praça é de todos os Pracistas. Por isso, é preciso que todos os Pracistas colaborem e o ajudem a engrandecer.

Recuando cerca de vinte anos atrás, todos nos lembramos que, tendo o Rancho da Praça muitos simpatizantes, eram muito poucos os que se manifestavam e acompanhavam o Nosso Glorioso, mesmo nas idas à praia, aquele momento único que é marcante para se aferir quem consegue movimentar mais gente. Muitos tinham até vergonha de dizer que eram da Praça. Felizmente, hoje as coisas não são assim e oxalá que esse tempo não volte mais.

Durante este período de tempo, muita coisa mudou no Rancho da Praça. Fieis no respeito a um passado glorioso, alicerçamos o presente e asseguramos o futuro.

Quando à cerca de duas décadas tomamos posse, aferimos as dificuldades da Associação, definimos uma estratégia do que queríamos para o Nosso Glorioso e, programamos em linhas gerais os critérios e as prioridades de acção a adoptar.

A primeira grande prioridade foi a reconstrução e ampliação da sede social a partir de 1984. Foram tempos difíceis, de muitas canseiras e preocupações, de muito tempo perdido e muitos sacrifícios. Felizmente os resultados estão à vista e hoje podemos estar aqui alegres e felizes num património que é nosso.

A segunda das prioridades consistiu na retoma da confiança dos Pracistas no seu Rancho, facto que foi também amplamente conseguido como é fácil constatar.

A terceira das grandes prioridades tinha a ver com o regresso às internacionalizações do Rancho da Praça. Não esqueçamos que o Nosso Glorioso foi o primeiro Rancho a atravessar a fronteira no longínquo ano de 1932, fazendo exibições em Pontevedra, Salamanca e Santiago de Compostela, e pioneiro nas deslocações a outros países nos primeiros anos da imigração portuguesa para França, estávamos então em 1963.

Durante este percurso de cerca de 20 anos à frente dos destinos do Rancho da Praça, no respeito pelo passado mas acompanhando a evolução dos tempos e as novas mentalidades;

¢ Continuamos e cimentamos todas as tradições seculares tão enraizadas no povo.

¢ Aproveitamos para reconhecer algumas personalidades que se distinguiram durante décadas de trabalho e dedicação ao Rancho da Praça mas estavam esquecidas.

¢ Reforçamos a amizade de irmãos com o Real Coro Toxos e Froles e, demos força à geminação entre Vila do Conde e Ferrol através de várias iniciativas e promovendo muitos intercâmbios.

¢ Relançamos internacionalmente o Rancho da Praça a partir de 1990. Desde aquele ano até agora, não contando as inúmeras deslocações a Espanha, onde nos sentimos como na nossa própria casa, o Rancho da Praça efectuou 3 deslocações à Alemanha, 8 deslocações a França e 2 ao Canadá. Geminou-se com o Rancho da Associação Cultural Portuguesa dos Alpes Marítimos de Cannes - França em 1993 e com o Rancho Folclórico do Vasco da Gama de Hamilton - Canadá em 2001.

¢ Perspectivando o futuro, dotamos esta velhinha associação com os requisitos indispensáveis e possíveis, de acordo com as possibilidades financeiras da Associação, com estruturas que lhe permitam fazer frente aos desafios que possam advir, criando novas actividades para além dos ranchos.

¢ Informatizamos os serviços administrativos e fizemos uma página internet de rara qualidade contendo toda a história da Associação. Adquirimos os equipamentos para salvaguardar todo o património financeiro, artístico e cultural, e não esquecemos a manutenção de todo o património.

Quando estamos a terminar a nossa função de dirigentes desta velhinha e carinhosa Associação, em jeito de balanço destes vinte anos, consideramo-nos satisfeitos com o trabalho desempenhado. Poderíamos ter feito mais se tivéssemos mais colaboração. Infelizmente isso não aconteceu.

O Rancho da Praça foi pioneiro em tudo ou quase tudo o que aos Ranchos de Vila do Conde diz respeito.

Não somos uma Associação rica nem temos receitas da ordem do milhão e meio de contos mensais provenientes do aluguer da sede para a escola técnica, do aluguer de garagens ou do aluguer do café. No Rancho da Praça temos vivido com muitas dificuldades, gerindo as receitas e as despesas até ao cêntimo.

É por isso nosso dever reconhecer o papel importantíssimo desempenhado pela Câmara Municipal de Vila do Conde, através da atribuição de subsídios, cedências de autocarros, ofertas de materiais e ajudas técnicas. Isso só é possível porque na Presidência da Câmara está um homem dotado de uma enorme sensibilidade associativa. Esse homem é o Eng. Mário Almeida.

Senhor Presidente, dentro ou fora da Direcção, o meu coração será sempre Pracista e continuarei interessado na actividade da minha Associação e a trabalhar para o Meu Glorioso.

No Rancho da Praça considerámo-lo como um dos grandes amigos da nossa Associação. Deixe-me por isso fazer-lhe um último pedido enquanto Presidente da Direcção.

Estamos muito preocupados quanto ao futuro. A falta de um armazém para guardar as máquinas e, equipamentos, e para confeccionar todos os motivos inerentes à participação no São João, vai reflectir-se no próximo ano dado que, por falta desse espaço, quase todos os equipamentos e motivos que nos custaram milhares de contos e muitas horas de trabalho, estão irremediavelmente perdidos. Preparar o próximo São João vai implicar uma despesa enorme e um trabalho descomunal, pois será necessário começar quase tudo de novo.

Mas para que isso aconteça, é imprescindível um armazém de propriedade do Rancho da Praça para que nunca mais tenhamos que andar com a casa às costas como o caracol.

Por isso fazemo-lhe o nosso pedido desesperado. O Rancho da Praça precisa urgentemente de um armazém sem o qual, não pode participar nos festejos de São João em igualdade com o adversário. Não tendo possibilidades financeiras para o comprar, só podemos recorrer à Câmara Municipal de Vila do Conde na pessoa de V. Exa. e apelar à sua sensibilidade associativa. Dada a gravidade da situação, temos que ser muito directos. Senhor Presidente, é possível um armazém para o Rancho da Praça?

Sem esse espaço, torna-se mesmo inviável continuar a participar nas Festas de São João com a qualidade e pujança que as tradições vilacondenses, o povo e a memória dos nossos antepassados exigem.

Para terminar queremos agradecer toda a ajuda que a Câmara Municipal tem proporcionado ao longo dos tempos, agradecer a todas as entidades e amigos o apoio recebido, agradecer a disponibilidade e o empenho dos nossos componentes, músicos e ensaiadores e pedir-lhes que agora mais que nunca é importante a sua continuidade no Grupo. Um agradecimento especial aos nossos irmãos ferrolanos que sempre têm estado connosco e que comungam dos mesmos ideais na aproximação dos povos de Ferrol e de Vila do Conde.

Uma palavra especial para todos os directores que comigo trabalharam durante estes vinte anos. Em meu nome pessoal e no da Associação a que ainda presido, agradeço a sua colaboração. Alguns pelo trabalho e empenho, dedicação e saber, são verdadeiros pilares suportes desta Associação. É precisamente para eles que normalmente não aparecem em público, que peço uma calorosa salva de palmas.

Quero desejar os melhores êxitos à Direcção do Rancho da Praça que sair das próximas eleições. Deixo a garantia de que estarei sempre disponível para ajudar o Nosso Glorioso. Quero deixar também uma mensagem em termos de futuro à Gente da Praça: Se queremos ter uma Associação forte, temos que ajudar e participar nos eventos e realizações organizados pela Associação. Não podemos esquecer que quando se diz mal da Praça, diz-se também mal de cada um de nós.

VIVA A PRAÇA; VIVA A PRAÇA; VIVA A PRAÇA

Vila do Conde, 10/11/2002

Carlos Marcelino