Já está instituído no povo que os festejos a São João Baptista - Padroeiro de Vila do Conde,
sejam um acontecimento cultural e recreativo, religioso e profano de referencia, em grande
parte, senão principalmente protagonizado pelos dois Ranchos de Rendilheiras, verdadeiras
forças mobilizadoras desse povo tão arreigado e cioso das suas tradições.
A cidade ganha vida e alegria, cor e entusiasmo. As principais artérias da cidade enchem-se
de cor e luz devido às ornamentações com mais nível em cada ano que passa. Os diversos
espectáculos agendados pela Comissão de Festas vão ocupando as noites durante os dias de
festas. Os Zés Pereiras animam o burgo assim como as Bandas de Música. As cascatas patentes
em diversos pontos da cidade, inclusive a da Praça de São João da autoria do Rancho da Praça,
são motivo de atracção. Mas, o acontecimento mais importante é sem dúvida a Noite de São
João e o dia 24 com a Procissão do Padroeiro e a Ida à Praia.
Particularmente nestes dois dias, o povo fervilha. O bairrismo do povo vilacondense acentua-se
na tradição da rivalidade existente entre a Praça e o Monte. No ar paira uma ansiedade e um
nervoso miudinho porque todos estão na expectativa para saber o que cada Rancho vai apresentar
na Grande Noite.
No entanto, tradicionalmente a "festa" começa precisamente um mês antes, mais precisamente na
noite de 24 de Maio, em que o povo, sempre protagonizado pelos dois Ranchos, canta ao desafio
quadras sanjoaninas de louvor ao Santo, as chamadas "orvalhadas", a Praça na parte de traz da
Igreja Matriz, naturalmente virada para o monte, e o rancho lá de cima, junto ao muro que dá
acesso ao Mosteiro de Santa Clara virado para a Praça. Como sempre, juntamente com as
"orvalhadas", são cantadas também algumas quadras cuja intenção é dar algumas alfinetadas
no adversário.
Este ritual mantém-se no dia 17 de Junho (a faltar oito dias), porventura com mais entusiasmo,
pois também está mais próxima a Grande Noite e o momento que será o corolário de alguns meses
de trabalho e de envolvimento de centenas de pessoas quer nos ensaios dos ranchos, a fazer os
carros alegóricos da Marcha Luminosa, os arcos, a cascata, e um sem número de tarefas inerentes
a um empreendimento desta natureza, onde apesar da entrega e do profissionalismo com que
tudo é feito, é necessário estar sempre muito atento para qualquer imprevisto, pois nem
tudo é possível testar durante os trabalhos de montagem.

Eis que chegamos à tão ansiada Noite de São João. As expectativas não saíram goradas. A abrir
a Marcha Luminosa, a banda de Gaitas do Real Coro Toxos e Froles - o Rancho Irmão que se deslocou
desde a cidade de Ferrol - Espanha para participar. A sua belíssima actuação mereceu
ininterruptos aplausos durante todo o percurso. O Rancho da Praça apresentou-se com os seus
quatro habituais ranchos, infantil, adulto, intermédio e velhas guardas e, algumas dezenas
de Pracistas que sem fazerem parte de qualquer um ranchos que dançaria no palco instalado
na Praça de São João quiseram desfilar com o seu arco e balão, num total de cerca de 400
pessoas. Além dos dois carros com amplificação sonora, fizeram parte integrante da Marcha
Luminosa três carros alegóricos fantasticamente bem feitos, verdadeiras réplicas à escala
da Igreja de Nosso Senhor dos Navegantes, do Monumento à Rendilheira e da secular Capela
de Nossa Senhora da Guia.
No dia seguinte, na Procissão, como habitualmente três rapazes fardados levaram as lanternas a
ladear o andor do Padroeiro e vários pares dos quatro ranchos que actuaram na noite anterior
incorporaram a representação da Praça no local que de realce já é tradicional, no fim de todas
as Associações e antecedendo a Banda de Música que fecha o préstito logo seguido de milhares
de fiéis pagadores de promessas.
À noite, este ano um pouco mais tarde que o habitual, dado que a Selecção Portuguesa jogava no
Euro 2004 a passagem aos quartos de final com a Inglaterra e ganhou, o Rancho da Praça saiu na
frente para a Ida à Praia incorporando milhares de pessoas a cantar e a bailar em uníssono.
Chegados à Praia, cumpriu-se a tradição de entoar os cânticos de louvor ao Santo e, com a
mesma alegria e entusiasmo, o povo da Praça voltou ao centro da cidade e no largo do Senhor
da Cruz (Largo dos Artistas), ainda se dançou durante largo tempo. Quem não soubesse que
aquela gente já tinha ido à praia e volvido sempre a bailar e a cantar, teria ficado
admirado por ver tanta alegria e entusiasmo naquele convívio entre diferentes idades e
extractos sociais. A mística de São João arreigada nas nossas tradições exerce no povo
esta cultura muito genuinamente vilacondense.